Saudades daquele tempo em que podíamos ter sentimentos. Em que podíamos dizer ao outro que o amávamos e que realmente sentíamos aquilo. Saudades de quando fazíamos uma amizade e queríamos que ela fosse eterna. E, enquanto acreditamos, ela foi. Saudades de quando nós não éramos tão incrédulos e nossos corações não eram tão frios.
Ainda me lembro de quando eu era criança. Eu podia ser sincera. As pessoas não se zangavam comigo quando eu era sincera, mesmo que deixasse a situação embaraçosa. Eu podia falar que ela estava errada e ela não me odiaria por isso. Hoje as pessoas só ficam perto de pessoas que falam o que elas querem ouvir.
Sinto falta da época em que fazer amizade se resumia em gostar de alguém e perguntar: “quer ser minha amiga?” Se sim, dávamos os dedos mindinhos e já éramos super amigas. Sinto falta de quando tinha tempo pra dormir na casa das amigas. Era tudo tão divertido. Festa do pijama, filmes, brincadeiras e saber que eu tinha mais de um lar.
Sinto falta de quando eu não tinha medo. Medo de cair: me jogava mesmo. Andava de bicicleta e primeiro ralei muito meus joelhos. Triste mesmo era a hora de passar Mertiolate. Socorro, alguém lembra? Não tinha medo de me decepcionar com as pessoas também. Eu me entregava muito em todos os relacionamentos; em todas as amizades. E no meio de tão poucas amizades, considerava tanta gente verdadeiros amigos.
Sinto falta de fazer uma festa de aniversário no quintal de casa e a festa lotar. Família, amigos, amigos de trabalho da minha mãe, vizinhos, gente agregada… Você chamava 50 e vinham 100. Era carne louca, torta, bolo caseiro. E sacolinha surpresa ou bexigão. Ô saudade! E nos divertíamos tanto! Mesmo os adultos não se preocupavam em impressionar nem estavam com pressa pra ir embora em outros compromissos. Também não ficavam alienados no celular. As pessoas ali apreciavam a companhia uma da outra. Sinto falta de quando apreciávamos a companhia de quem estava por perto.
Saudades até daquelas paixonites de escola que nos faziam ouvir loucamente Sandy & Junior ou RBD. Saudades de estar rodeada de sonhos e não deixar que a procrastinação os empurrasse para depois. Por que não correr atrás agora? Por que não realizar?
Saudades de uma vida que se completava na felicidade da simplicidade dos momentos. Saudades da macarronada da vó aos domingos e a família toda reunida. Saudades de irmos juntos à igreja. Saudades do amor gratuito. Saudades da preocupação genuína.
Saudades, quantas… saudades.
Com amor, Li.